segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Maculelê

Maculelê

Há muitas outras versões de lendas sobre o Maculelê, mas todas sustentam a versão de um guerreiro sozinho, enfrentando a invasão inimiga com apenas dois bastões.

Por muito tempo o maculelê foi apresentado nas ruas e praças da cidade, nos dias de festa da padroeira.

Maculelê é luta e dança ao mesmo tempo, se um feitor aparecia na senzala à noite, pensava que era a maneira de adoração aos deuses das terras deles (dos negros escravos), as músicas não davam ao feitor entender o que eles cantavam.
A festa era realizada de 8 de dezembro (consagração de Nossa Senhora da Conceição) e 2 de fevereiro (dia de Yemanjá) em Santo Amaro da Purificação. Acontecia nas praças e nas ruas da cidade e era considerada uma festa ``profana'' realizada pelos negros escravos.
“em marcha guizada, a ``Marcha de Angola’’, que tem algo de Capoeira e de Samba, tudo isso em Movimentos sempre ao compasso das batidas das grimas (bastões).”

Instrumentos
O instrumento fundamental no maculelê é o atabaque. Na época  eram usados três atabaques seguindo a formação do candomblé. Outros instrumentos como o agogô e o ganzá também eram tocados durante a apresentação. Hoje vemos apresentações de maculelê, na maioria das vezes somente com o atabaque.

Indumentária e Pintura
Na época a indumentária era simples, de acordo com as condições cotidianas dos dançarinos. Geralmente usavam camisas e calças comuns aos africanos, de algodão cru e pés descalços.
Estes pintavam os rostos e as partes desnudas com tintas feitas com restos de fuligem de carvão ou de fundo de panelas. Exageravam na tintura vermelha que usavam na boca que era feita com sementes de urucum. Algumas pessoas do grupo empoavam suas cabeleiras com farinha de trigo, usavam touca nas cabeças ou lenço no pescoço.

Cânticos
Muitos dos cânticos do maculelê, provém dos candomblés de caboclo, alguns das canções de escravos e outros até fazem menções à cultura indígena. Os cânticos acompanham o desenrolar da apresentação do maculelê. Cada parte da encenação do maculelê tem a sua cantiga certa que acompanha. São muitos os cânticos do maculelê e cada grupo tem os seus prediletos. Eis alguns deles cantados antigamente na época de Mestre Popó:

Cântico para saudação:
Ô boa noite pra quem é de boa noite/Ô bom dia pra quem é de bom dia/A benção meu papai a benção/Maculêle é o rei da valentia.

Homenagem à Princesa Isabel: (alguns homenageiam Zumbi dos Palmares):
Vamos todos louva/A nossa nação brasileira/Viva a dona Isabel (ou Zumbi dos Palmares) /Ai meu Deus/Que nos livrou do cativeiro

Peditório: (ocorre nas saídas às ruas):
Deus que lhe dê, ê/Deus que lhe dá, á/Lhe dê dinheiro/Como areia no mar.

Louvação aos pretos de Cabindas ou Louvor a Nossa senhora da Conceição:
Nós somos pretos da Cabinda de Aruanda/A Conceição viemos louvar/Aranda ê, ê, ê/Aranda ê, ê, á.

Fulô da Jurema, de influência indígena:
Você bebeu Jurema/Você se embriagou/Com a fulô do mesmo pau/Vosmicê se levanto.

Saudação de chegança:

Ô sinhô dono da casa/Nós viemos aqui lhe vê/Viemos lhe pergunta/Como passa vosmicê
Saudação de despedida:
Quando eu for embora ê/Todo mundo chora ê.

Em cena

Durante a apresentação do maculelê, os componentes, que representam a tribo rival, formam um círculo em volta de uma pessoa, que representa o herói. Todos sustentando um par de bastões nas mãos. O desenrolar da história é contado através dos cânticos que são respondidos em côro. Além do côro os componentes batem os bastões (grimas) no ritmo do atabaque que é tocado pelo mestre do maculelê.

O Maculelê hoje

Hoje o maculelê se mantém preservado graças à sua incorporação por grupos de capoeira, que incluíram a dança nas suas apresentações em batizados e festas populares. Os componentes se apresentam vestidos de saia de sisal, sem camisa e com pinturas pelo corpo. Há também alguns grupos que preferem se apresentar com seus abadás usuais, o que deixa evidente a sua descaracterização, o que deve ser evitado para que não percamos mais uma manifestação cultural através do esquecimento de suas raízes.

O maculelê faz parte do folclore brasileiro e deve ser preservado como patrimônio cultural, assim como a capoeira. Deve ser mantido e respeitado como tradição. Seja ela trazida por nossos irmãos africanos ou criada pelos nativos indígenas, a beleza do maculelê traz em si os traços da miscigenação cultural de um país onde a cultura é a mais rica do mundo, apesar de não receber o reconhecimento que merece.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Capoeira Regional Mestre Bimba

Manoel dos Reis Machado

Bimba empunhava regras para os praticantes da capoeira regional, sendo elas:

- Não beber, e não fumar. Pois os mesmos alteravam o desempenho e a consciência da capoeira.

- Evitar demonstrações de todas as técnicas, pois a surpresa é a principal arma dessa arte.

- Praticar os fundamentos todos os dias.

- Não dispersar durante as aulas.

- Manter o corpo relaxado e o mais próximo do seu adversário possível, pois dessa forma o capoeira desenvolveria mais.

- Sempre ter boas notas na escola.

As portas de um novo século, o começo de uma nova era estava por vir, já era momento de se esperar o surgimento de novos gênios revolucionários, pessoas que viriam dar um toque de classe e deixar sua marca registrada na historia, fosse na arte, ciência, musica, literatura e também na arte da vadiação, em fim em nossa capoeira. Era 23 de novembro do ano de 1899 (na verdade) ou 1900, resposta essa que a malandragem se encarregou de ocultar, quando Sra. Maria Martina do Bonfim veio a dar a luz a uma “menina” (assim achava ela), foi quando a parteira ao aparar o herdeiro em suas mãos exclamou em tom maior “é menino, olha a Bimba dele ai !!!”, sem mesmo saber que aquele que recebeu seu “nome de guerra” logo ao nascer, se tornaria um dos maiores representantes da cultura Afro-Brasileira de todos os tempos. Acabara de nascer um filho de Xangô, um verdadeiro guerreiro o qual trazia em sua herança genética a Força e Malicia de um exímio “batuqueiro”, luta braba baseada em movimentos de rapa (desequilibrantes) ao qual o Sr. Luiz Candido Machado seu pai era respeitado e considerado campeão nessa modalidade. Acabara de nascer Manoel dos Reis Machado no bairro do Engenho Velho na freguesia de Brotas na cidade de Salvador, Bahia, o mesmo se tornaria conhecido por “Mestre Bimba”, um dos homens mais influentes no meio jovem, popular e estudantil da Bahia e do Brasil, pessoa que viria a derrubar tabus, e levar nossa cultura aos escalões mais altos da sociedade, nascia o criador da Luta Regional Baiana.

Logo bem cedo “Seu Bimba” se envolvera com a Capoeira, sua iniciação foi aos 12 anos, lá pras bandas da Estrada das Boiadas, hoje um dos maiores redutos da cultura Afrodescendente Brasileira, o bairro da Liberdade, na cidade de Salvador-Bahia, aprendeu os primeiros passos com um negro de origem africana de nome Nôzinho Bento, conhecido por Bentinho Capitão da Cia de Navegação Baiana, titulo outorgado aos antigos homens do mar pessoas de notório saber, trabalhadores da zona portuária, do afamado Caís Dourado reduto da malandragem baiana de outrora. Seu Bimba teve em seu aprendizado e aos 18 anos, tendo aprendido os segredos da arte-manha da capoeiragem além de ter vivenciado a malandragem de outrora no seu dia a dia, inúmeras experiências e diversas situações fizeram do Bimba um “Mestre na arte da Malandragem”, muitas dessas experiência ele transmitia a seus discípulos quando passou a lecionar, e tempos depois no decorrer do curso da Luta Regional Baiana que viria a criar. O capoeira da época teria que aprender a ser uma pessoa extremamente intuitiva e habilidosa capaz de reacionar diante das mais distintas formas de perigo, muitos eram capazes de demonstrar seus dotes de habilidade realizando verdadeiras proezas assim como o Mestre Bentinho que era capaz de executar um salto mortal na boca de um caixote de cebolas e cair em pé no mesmo sem quebrá-lo. Situações de bravura, destreza e inteligência eram comuns no meio da capoeiragem da época, e assim foi recebendo seu Bimba os diversos ensinamentos que o consagraram Mestre em meio a comunidade que o rodeava.

O Bimba aprendeu a Capoeiragem da época (hoje denominada Angola) e ensinou a mesma durante muitos anos, aos negro e mulatos das classes populares , assim como as classes mais abastadas as quais ministrava classes particulares nos quintais e varandas de suas residências. Eram seus alunos pessoas como o Desembargador Decio dos Santos Seabra (da família do ex-Governador Seabra) e Dr. Joaquim de Araujo Lima (do jornal Imparcial e Nova Era o qual mais tarde viria a tornar-se Governador do Guaporé) dentre outros foram alunos do Mestre Bimba.

Em 1928 o Mestre Bimba fundiu a capoeiragem que havia aprendido na época, com elementos do Batuque e acrescentou a sua criatividade criando assim uma obra aberta, a qual chamou “Luta Regional Baiana” a 
 “Capoeira Regional”, sua criação ganhou o mundo, e a partir de então a capoeiragem nunca mais foi a mesma. No final da década de 20 Mestre Bimba e sua Turma se apresentaram para o então Deputado Simões Filho, a altura a capoeiragem era tratada como pratica ilegal, após essa exibição o povo toma conhecimento da Capoeira Regional, em 1932 o Mestre funda a primeira academia especializada em Capoeira no bairro do Engenho Velho de Brotas, a época também ensinava em residências na Roça do Lobo, cinco anos depois o Mestre era registrado como “Professor de Educação Fisica pela Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública”.

Em 1939 passa a lecionar no quartel do CPOR, e em 1942 instalou sua segunda academia. Na década de 30 recebe um convite para exibir-se no Palácio do Governo a convite do Governador-Interventor Juracy Magalhães, sendo que em 23 de julho de 1953 exibiu-se para o então Presidente Getulio Vargas o qual denominou a capoeira “o esporte genuinamente Brasileiro”. A vida de Mestre Bimba foi cercada de conquistas e vitorias, desafiou lutadores de todas a modalidades para provar o valor da Luta Regional Baiana, junto a seus alunos levou a Capoeira Regional para o Brasil, costumava dizer que tirou a capoeira “debaixo do pé do boi”, se referindo ao tratamento dado a arte-luta e seus praticantes no passado, em 1971 recebe seu primeiro convite para ir Goiânia onde voltaria pouco tempo depois para implantar sua Capoeira Regional, em 5 de fevereiro de 1974 nos deixa Manoel dos Reis Machado, porém seus alunos e família dão continuidade ao seu legado. Entrar para historia como o “Rei da Capoeira” o qual recebe tempos depois o titulo de Doutor Honoris Causa Post-Mortem pela Universidade Federal da Bahia, sua Regional segue viva e se expandiu para todo o mundo , assim como ele imaginava. Salve Mestre Bimba, o criador da Regional!!!

Com a intenção de aprimorar a sua capoeira, Mestre Bimba, que sempre foi angoleiro, incorporou movimentos de algumas artes marciais à sua capoeira regional. E não foi só isso. Ele também elaborou algumas sequências de golpes para que a sua capoeira se tornasse mais efetiva e pudesse combater de frente ou estar à altura de outras artes marciais.
Não é à toa que o primeiro nome que deu à essa nova modalidade de luta era “Luta Regional Baiana”.
Com a sua nova capoeira, Mestre Bimba começou a lançar desafios aos lutadores de todas as artes marciais e ganhou todos.
No total são oito sequências de movimentos. Esses movimentos são considerados essenciais para que se aprenda a verdadeira capoeira regional. Segue então a famosa sequência de Mestre Bimba:


Primeira Sequência

Aluno 1                                           Aluno 2                                              
Meia-Lua de frente                            cocorinha
Meia Lua de frente com armada        cocorinha com negativa
Aú                                                    cabeçada



Segunda Sequência

Aluno 1                                           Aluno 2

Queixada                                        cocorinha
Queixada                                        cocorinha
Cocorinha                                       armada
Benção                                           negativa
Aú                                                 cabeçada


Terceira Sequência

Aluno 1                                          Aluno 2

Martelo                                          banda
Martelo                                          banda
Cocorinha                                      armada
Benção                                          negativa
Aú                                                 cabeçada



Quarta Sequência

Aluno 1                                         Aluno 2

Goldeme                                       bloqueio
Goldeme                                       bloqueio
Arrastão                                       galopante
Aú                                                negativa
                                                    cabeçada


Quinta Sequência

Aluno 1                                        Aluno 2

Giro                                            cabeçada
Joelhada                                      negativa
Negativa                                     cabeçada




Sexta Sequência

Aluno 1                                       Aluno 2

Meia-Lua de Compasso             cocorinha
Cocorinha                                   meia-lua de compasso
Joelhada                                     negativa
Aú                                              cabeçada
Rolê


Sétima Sequência

Aluno 1                                      Aluno 2

Armada                                    cocorinha
Armada                                    cocorinha
Negativa                                   benção
Cabeçada                                 aú
                                                 rolê

Oitava Sequência

Aluno 1                                     Aluno 2

Benção                                      negativa
Aú                                            cabeçada
Rolê

Capoeira Angola Mestre Pastinha

Vicente Ferreira Pastinha

Mestre Pastinha descende de pai espanhol e mãe baiana, foi batizado em 1889 com o nome de Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, na cidade de Salvador-Ba. Conta-se que o princípio de sua vida na roda de capoeiragem aconteceu quando tinha 8 anos , sendo seu mestre o africano Benedito, o que ao vê-lo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe as mandingas, negaças, golpes,guardas e malícias da Angola. O resultado veio logo aparecer , Pastinha nunca mais fora importunado por ninguém.

Mestre Pastinha serviu na Marinha de Guerra do Brasil, onde permaneceu por um período de 8 anos .Mestre Pastinha de tudo fez um pouco,trabalhou como pedreiro, pintor, entregava jornais, tomou conta de casa de jogo; no entanto, o que mais gostava de fazer era ensinar "a grande arte ".Pastinha conhecia a capoeira , sabia como era importante continuar aquela cultura, aconselhava que era preciso ter calma no jogo "quando mais calma melhor pró capoerista", e que a capoeira "ela é o pai e mãe de todas as lutas do Brasil. Sabia muito bem os fundamentos e os segredos existentes na capoeiragem, cantava, tocava os instrumentos e ensinava como um verdadeiro mestre deve fazer. Pastinha foi nas rodas de capoeira um autêntico mestre, um bamba na luta.

Saindo da Marinha em 1910, inicia sua fase de prof. de capoeira ,seu primeiro aluno foi Raimundo Aberê, este se tornou um exímio capoeirista, conhecido em toda Bahia .Segundo Mestre Pastinha , sua primeira academia ficava localizada no Largo do Cruzeiro do São Francisco, na rua do meio do terreiro. Pastinha dizia: "Acapoeira tem muitas coisas.Primeira parte; a capoeira tem seu dicionário; segunda parte: tem seu dicionário; terceira parte : tem seu dicionário e quarta parte ; tem seu dicionário ". Ensinava que quando alguém fosse falar sobre a capoeira dissesse somente o que sabia, "não vá dizer que a capoeira é o que ela não é , nem vá contar o que não viu ninguém falar , então, não vá contar aquilo que não pode contar. Não é todo mundo que vá abrir a boca e dizer eu conheco a capoeira, a capoeira é isso.Nem todos mentais, nem todos sujeitos pode abrir a boca para cantar o que é capoeira não."

Mestre Pastinha era uma pessoa bem humorada, descontraída, bastante receptivo , rico em conhecimento, seu saber transcendia as rodas de capoeira. Era uma pessoa do mundo ideal, camarada amigo, pai e irmão dos discípulos.Viveu intensamente seus longos anos dedicados à capoeira de Angola, classificou-se na história da maladragem, da malícia, como ás. Manteve em sua academia de Angola, a originalidade da eficiência da luta em momento algum fora perdido na academia de Pastinha. Ele contribuiu categoricamente com o seu talento e dedicação à capoeira para que a sociedade baiana e brasileira percebessem a capoeiragem como uma luta-arte imbatível, guerreira, que está além dos paupérrimos preconceitos que há na sociedade.

Vicente Pastinha, foi filmado ,fotografado , entrevistado , gravou disco e deixou um livro , a capoeira nunca mais poderá esquecer este ás , o guardião da capoeira d'Angola. Foi lá na casa 19, no largo do Pelourinho, que funcionava a sua academia , o Centro Esportivo de Capoeira Angola fundada em 1941.Milhares de pessoas estiveram na academia, ficavam impressionadas com as cantorias, com o som dos berimbaus , pandeiros e agogôs e principalmente , com os jogos que lá rolavam . Por fim , foi feita uma reforma no sobrado, disseram ao mestre que ele não tinha com o que se preocupar, após terminadas as obras, ele voltaria para lá , seu lar, sua academia. Nunca mais se ouviu a voz de Pastinha dentro do sobrado, o povo não mais assistiu a uma maravilhosa roda de capoeira de Angola naquele velho sobrado.O Mestre Pastinha não voltou , morreu na escuridão de um quarto decadente no bairro Pelourinho em Salvado

Cantigas de Capoeira